segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Ensaio...


Ontem fui ao cinema ver este filme que espero a tanto tempo conferir nas telonas...
Que mágico!
Emocionante... Contorceu meu peito a todo o momento...
Quando lemos um livro imediatamente criamos cada qual, o cenário, os personagens a nossa maneira, mas sempre gostei de sentir uma adaptação dessas no cinema, gosto de ver como foi a imaginação e outro ponto de vista, misturando a vários outros, que fizeram este sair do papel proporcionar cores e imagens, e o Fernando Meirelles esta de parabéns!
Confesso que vi o trailer e me decepcionei até... Tinha achado muito futurista, aquele efeito de brilho difuso na película do filme todo, que apesar de ter uma simbologia muito clara... Era demais pra minha imaginação, que tinha composto tudo muito rústico e simples, ao ler... Mas foi surpreendente já nas primeiras cenas...

Eu considero esta obra de arte do Saramago... Um segundo “Pequeno Príncipe” um tapa na cara da nossa sociedade, dos nossos valores e conceitos morais... O que é esta vida?
Qual o sentido dela?

O que o Rei da Ala3, vai levar ao pedir pertences materiais?
O que você pensa que cegos presos em um sanatório vão querer com jóias, pra que eles vão usar?

E nós... Pra que, e pra onde, estamos correndo tanto de olhos fechados? Ensaiando?
...

...

Entre outras,
Obrigado Meirelles, não leia as criticas... Quem não gostou do filme, talvez não tenha intensificado a sensação...


E o obrigado eterno ao Saramago, este grande homem!
:)

O Amor Dos Homens
Na árvore em frente
Eu terei mandado instalar um alto-falante com que os passarinhos
Amplifiquem seus alegres cantos para o teu lânguido despertar.
Acordarás feliz sob o lençol de linho antigo
Com um raio de sol a brincar no talvegue de teus seios
E me darás a boca em flor; minhas mãos amantes
Te buscarão longamente e tu virás de longe, amiga
Do fundo do teu ser de sono e plumas
Para me receber; nossa fruição
Será serena e tarda, repousarei em ti
Como o homem sobre o seu túmulo, pois nada
Haverá fora de nós.
Nosso amor será simples e sem tempo.
Depois saudaremos a claridade.
Tu dirásBom dia ao teto que nos abriga
E ao espelho que recolhe a tua rápida nudez.
Em seguida teremos fome: haverá chá-da-índia
Para matar a nossa sede e mel
Para adoçar o nosso pão.
Satisfeitos, ficaremos
Como dois irmãos que se amam além do sangue
E fumaremos juntos o nosso primeiro cigarro matutino.
Só então nos separaremos.
Tu me perguntarás
E eu te responderei, a olhar com ternura as minhas pernas
Que o amor pacificou, lembrando-me que elas andaram muitas léguas de mulher
Até te descobrir.
Pensarei que tu és a flor extrema
Dessa desesperada minha busca; que em ti
Fez-se a unidade.
De repente, ficarei triste
E solitário como um homem, vagamente atento
Aos ruídos longínquos da cidade, enquanto te atarefas absurda
No teu cotidiano, perdida, ah tão perdida
De mim.
Sentirei alguma coisa que se fecha no meu peito
Como pesada porta.
Terei ciúme
Da luz que te configura e de ti mesma
Que te deixas viver, quando deveras
Seguir comigo como a jovem árvore na corrente de um rio
Em demanda do abismo.
Vem-me a angústia
Do limite que nos antagoniza.
Vejo a redoma de ar
Que te circunda – o espaço
Que separa os nossos tempos.
Tua forma
É outra: bela demais, talvez, para poder
Ser totalmente minha.
Tua respiração
Obedece a um ritmo diverso.
Tu és mulher.
Tu tens seios, lágrimas e pétalas.
À tua volta
O ar se faz aroma.
Fora de mim
És pura imagem; em mim
És como um pássaro que eu subjugo, como um pão
Que eu mastigo, como uma secreta fonte entreaberta
Em que bebo, como um resto de nuvem
Sobre que me repouso.
Mas nada
Consegue arrancar-te à tua obstinação
Em ser, fora de mim – e eu sofro, amada
De não me seres mais.
Mas tudo é nada.
Olho de súbito tua face, onde há gravada
Toda a história da vida, teu corpo
Rompendo em flores, teu ventre
Fértil. Move-te
Uma infinita paciência.
Na concha do teu sexo
Estou eu, meus poemas, minhas dores
Minhas ressurreições.
Teus seios
São cântaros de leite com que matas
A fome universal.
És mulher
Como folha, como flor e como fruto
E eu sou apenas só.
Escravizado em ti
Despeço-me de mim, sigo caminhando à tua grande
Pequenina sombra.
Vou ver-te tomar banho
Lavar de ti o que restou do nosso amor
Enquanto busco em minha mente algo que te dizer
De estupefaciente.
Mas tudo é nada.
São teus gestos que falam, a contração
Dos lábios de maneira a esticar melhor a pele
Para passar o creme, a boca
Levemente entreaberta com que mistificar melhor a eterna imagem
No eterno espelho.
E então, desesperado
Parto de ti, sou caçador de tigres em Bengala
Alpinista no Tibet, monje em Cintra, espeleólogo
Na Patagônia.
Passo três meses
Numa jangada em pleno oceano para
Provar a origem polinésica dos maias.
Alimento-me
De plancto, converso com as gaivotas, deito ao mar poesia engarrafada, acabo
Naufragando nas costas de Antofagasta.
Time, Life e Paris-Match
Dedicam-me enormes reportagens.
Fazem-me
O "Homem do Ano" e candidato certo ao Prêmio Nobel.
Mas eis comes um pêssego.
Teu lábioInferior dobra-se sob a polpa, o suco
Escorre pelo teu queixo, cai uma gota no teu seio
E tu te ris.
Teu riso
Desagrega os átomos.
O espelho pulveriza-se, funde-se o cano de descarga
Quantidades insuspeitadas de estrôncio-90
Acumulam-se nas camadas superiores do banheiro
Só os genes de meus tataranetos poderão dar prova cabal de tua imensa
Radioatividade.
Tu te ris, amiga
E me beijas sabendo a pêssego.
E eu te amo
De morrer.
Interiormente
Procuro afastar meus receios: "Não, ela me ama..."
Digo-me, para me convencer, enquanto sinto
Teus seios despontarem em minhas rnãos
E se crisparem tuas nádegas.
Queres ficar grávida
Imediatamente.
Há em ti um desejo súbito de alcachofras.
Desejarias
Fazer o parto-sem-dor à luz da teoria dos reflexos condicionados
De Pavlov.
Depois, sorrindo
Silencias.
Odeio o teu silêncio
Que não me pertence, que não é
De ninguém: teu silêncio
Povoado de memórias.
Esbofeteio-te
E vou correndo cortar o pulso com gilete-azul; meu sangue
Flui como um pedido de perdão.
Abres tua caixa de costura
E coses com linha amarela o meu pulso abandonado, que é para
Combinar bem as cores; em seguida
Fazes-me sugar tua carótida, numa longa, lenta
Transfusão.
Eu convalescente
Começas a sair: foste ao cabeleireiro.
Perscruto em tua face.
Sinto-me
Traído, delinqüescente, em ponto de lágrimas.
Mas te aproximas
Só com o casaco do pijama e pousas
Minha mão na tua perna.
E então eu canto:
Tu és a mulher amada: destrói-me!
Tua beleza
Corrói minha carne como um ácido!
Teu signo
É o da destruição!
Nada restaDepois de ti senão ruínas!
Tu és o sentimento
De todo o meu inútil, a causa
De minha intolerável permanência!
Tu és
Uma contrafação da aurora!
Amor, amada
Abençoada sejas: tu e a tua
Impassibilidade.
Abençoada sejas
Tu que crias a vertigem na calma, a calma
No seio da paixão.
Bendita sejas
Tu que deixas o homem nu diante de si mesmo, que arrasas
Os alicerces do cotidiano.
Mágica é tua face
Dentro da grande treva da existência.
Sim, mágica
É a face da que não quer senão o abismo
Do ser amado.
Exista ela para desmentir
A falsa mulher, a que se veste de inúteis panos
E inúteis danos.
Possa ela, cada dia
Renovar o tempo, transformar
Uma hora num minuto.
Seja ela
A que nega toda a vaidade, a que constrói
Todo o silêncio.
Caminhe ela
Lado a lado do homem em sua antiga, solitária marcha
Para o desconhecido – esse eterno par
Com que começa e finda o mundo – ela que agora
Longe de mim, perto de mim, vivendo
Da constante presença da minha saudade
É mais do que nunca a minha amada: a minha amada e a minha amiga
A que me cobre de óleos santos e é portadora dos meus cantos
A minha amiga nunca superável
A minha inseparável inimiga.
Vinicius de Moraes, Paris 07.1957

quinta-feira, 9 de outubro de 2008


ôia eu e meu ego! e uma cara de sono :)